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APRENDIZ DE ESCRITOR
Não sei por que insisto em escrever
Meço mal meus versos ao contrário de Camões
Minha lâmina não é tão afiada como Machado
Não tenho a genialidade das pessoas de Pessoa
Nem sempre pego os feijões do fundo como João Cabral
Tampouco sou poético como Arnaldo
Meu nome não será lembrado na literatura, nas esquinas e nas ruas
Não irei para a academia de letras
Não recebi prêmios por minhas obras como meu grandioso professor
Não sei por que insisto em escrever
Talvez para fugir da realidade ou... encará-la.
E eu, nem prosa nem verso não serei ao menos indicado ao Oscar por meus roteiros
E eu, nem aprendiz de escritor, insisto em escrever...
Porque escrevendo eu me sinto vivo
Mesmo se eu morrer.
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OFÍCIO
O que é um poeta senão um garimpeiro
que vive em busca incansada da palavra-ouro?
Palavra essa que, se juntada a tantas outras, vai dar origem a um baú ou arca com o mais valioso tesouro.
Entretanto, esse tesouro não será escondido em alguma ilha.
Será um tesouro público.
Talvez o único tesouro que está ao alcance de todos,
um tesouro não-egoísta.
É certo que, alguns precisarão de mapas.
Mas, não será algo impossível.
O poeta é um lapidário que vai até o útero escuro da terra, retira a pedra
ainda em estado bruto e, com carinho, começa a lapidá-las.
Pois, deve ser assim: As palavras de um poema devem ser lapidadas ao máximo.
Essa é a prazerosa sina.
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A LÍNGUA TÁ VIVA
Minhas ideias perderam o acento
O trema foi-se embora já faz tempo
E tremo e temo sem saber se aguento
A língua atrevida passou a ter vida
Vestiu uma nova roupa, agora usa minissaia
E se antes eu voava, agora, voo é com medo de que eu caia
E se antes eu estava certo hoje estou errado
Mexem no tempero do nosso prato,
Insensatos, de fato, com esse trato
Perdeu-se o sabor que tinha frequência
E apenas sobrou um certo enjoo
Subserviência
Um sabor ocre regado à política e economia
Mexeram no pratododia e agora pagamos o fato.
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A FONTE DOS DESEJOS
Hoje é tudo de graça:
Música, vídeo, foto, sexo
E até enfada não ter fada
Causa um certo tédio.
A facilidade das coisas
Confunde-se com futilidade
Aborrecemos-nos sem saber
Que é só porque não tem mais
O fazer acontecer.
Não tem pó mágico, porta encantada
E os nossos desejos realizamos na fonte errada
Essa fonte é seca e rápida como uma facada
E a busca que impulsionava conseguimos
Numa arrancada.
Sinto falta das efígies e enigmas
Das pistas e dos portões. Hoje só padrões
Paradigmas.
Parece que só em feio e bonito
é que se divide a vida.
Sem percebermos, esse tédio,
Comete suicídio. Suicidam-se as fadas e o remédio
Que nos forma fornecidos. Retraídos e cansados,
Sem fada e enfadados, só nos resta aborrecer.
E a fonte buscamos no lugar errado
Não tem mais fazer por merecer.
Não tem mais o que fazer.
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O VÔMITO E O HOMEM
Um dia, caminhando pelas ruas do mundo real (nada de mais)
Vi um homem acuado e parecia-me que esse ar o fazia mal.
Ele vomitava.
Vomitava palavras!
Verbos, adjetivos, prefixos e sufixos.
Sinônimos, pronomes e nomes.
Palavras e palavrões.
E o povo que passava, sujeitos passivos, no vômito pisava.
Indiferentes antônimos
Atônitos pisavam no vômito.
Aproximei-me e perguntei o nome do sujeito.
Ele respondeu reto, direito,
De maneira certa:
“Meu nome? Meu nome é poeta.”
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